segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Dia 14 (último dia) - Posadas - Curitiba

Acabou-se o que era doce... Saímos de Posadas ontem as 8h da manhã e por volta das 19h chegamos em Curitiba. Quer dizer, quase todos chegamos, porque perdemos o Montanha pelo caminho... Uns 180 km antes da fronteira com o Brasil, a caixa de câmbio da moto do Montanha foi pro espaço e ele teve que terminar a viagem com a moto rebocada pelo seguro, chegando em Curitiba hoje, por volta das 2h da manhã. Mas dos males, o menor.

De ontem pra hoje dormi 14 horas direto e acordei com sono... impressionante como durante a viagem o corpo segura as pontas e não reclama, mas depois que acaba, ele cobra a reposição do descanso pra compensar o cansaço acumulado. Cansaço físico, bem entendido, porque a cabeça tá zerada e pronta pra outra.

Ainda não baixei as fotos que faltavam, mas logo o farei.

Como sempre, foi muito bacana ouvir os comentários da galera e saber que tinha um monte de gente viajando com a gente. A cada viagem coloco um blog como este no ar, sempre, com o intuito de ajudar a levar mais gente pra estrada. As experiências e vivências destas viagens são sempre impagáveis. Cada um na sua, no seu ritmo e com o seu objetivo. Mas sempre encerro dizendo que "viajar é preciso". A gente nunca sabe o que vai encontrar. Achávamos que íamos pegar o maior dos perrengues na Bolívia e, talvez, tenha sido o que mais nos surpreendeu positiviamente nesta viagem (com exceção da falta de gasolina). As culturas, pessoas, costumes e valores dos lugais que percorremos se misturam aos nossos, aumentando a "complexidade da mistura" e é por isso, que de uma forma ou de outra, sempre voltamos diferente do que saímos. E, na maioria das vezes, diferentes para melhor. Dessa vez, queremos crer que não tenha sido diferente.

Até a próxima!!!!!!

sábado, 7 de janeiro de 2012

Dias 11 (Coroico - Potosí), 12 (Potosi - Jujuy), 13 (Jujuy - Posadas)

Reta final!!!!!!

Pedimos desculpas pela ausência de notícias nos últimos dias, mas o negócio foi bruto.
Comecemos pelo começo. Depois de concluída a Carretera de la Muerte (o ponto ato da viagem) ficou até meio sem graça postar, porque qualquer coisa ia ficar menor perto do que vimos por lá. Além disso, desde então, os dias foram puxados, porque fomos acometidos da "síndrome da vontade de voltar pra casa". É sempre assim. Depois de atingido o ápice da viagem, começa a dar aquela queredeira violenta de chegar logo em casa e aí, é só "milha pra dentro". Quando fui a Ushuaia, pra se ter uma idéia, fiquei 19 dias "descendo" e voltei em apenas 5.

Meio que por causa da síndrome, fomos analisar os mapas pra ver se voltaríamos pelos caminhos programados a partir de Coroico. E decidimos abortar o Salar de Uyuni. Não tanto pela distância, mas porque as rotas até lá seriam, na maioria, de terra (coisa de mais de 800 km de chão pra chegar lá e de lá na fronteira com a Argentina). Então, dropamos Uyuni e resolvemos ir por Potosí, a cidade mais alta do mundo. O melhor da história é que na fronteira da Bolívia com a Argentina, no dia seguinte, descobrimos que essa foi uma das decisões mais acertadas da viagem, porque o salar de Uyuni está inteiramente alagado e a ida até lá ia ser perda de tempo.

Em compensação, ganhamos a oportunidade de conhecer Potosí, uma cidade bem bacana para os padrões que encontramos na Bolívia. Cidade histórica, onde ficamos hospedados num hotel bem razoável, chamado Hotel Paula. Jantamos no que, provavelmente, foi o melhor restaurante da viagem: El Fogon! De destaque, o visual impressionante. Realmente, a Bolívia vale a pena pelo visual. Descontado o absurdo da dificuldade pra turista comprar gasolina, a viagem pelo país é incrível. Aquelas paisagens com uma estrutura bacana pra receber turistas, poderiam seguramente gerar uma estupenda fonte de receita para o País. Além disso, passamos um frio do cão!!!!!!!! Edu quase teve hipotermia!!!!! Frio monstro com chuva, quase que o tempo todo. E Montanha, com sua moto de "tanque curto", ficou bastante preocupado com a possibilidade de ficar sem combustível de novo. Mas deu tudo certo!

Saímos bem cedo, rumo a Villazon, na fronteira com a Argentina. Mais um dia de cenários incríveis. Mais um dia de muito frio. Sempre acima dos 4.000 m de altitude e, a exemplo do dia anterior, sempre girando entre 2 e 5 graus positivos. O problema do dia foi cruzar a maldita fronteira. Na Bolívia, tudo numa boa, alguma demora, nada fora de série. Mas na Argentina, foi um perrengue digno de país de quarto mundo!!!!!! Demoramos quase 3 horas pra fazer a maldita alfândega. Gritamos, xingamos, esperneamos, blefamos, fizemos de tudo. A nossa "anja da guarda"  foi uma senhorinha que foi com a nossa cara e deu um jeito de nos ajudar no que pode, senão provavelmente estaríamos por lá até agora.... No caminho, conhecemos Mary, uma americana rodando sozinha numa GS650, que começou a viagem nos EUA e está descendo, Está viajando há 5 meses, sozinha, com um intervalo de 10 meses em função de um acidente quando cruzava a Colômbia. Quebrou as pernas, deixou a moto por lá, voltou pra casa pra se curar (10 meses no estaleiro) e desceu novamente pra continuar a viagem. Isso sim é ccoragem... Ainda deve ficar viajando mais uns dois meses e depois volta pra Seattle. Demos uma força pra ela na alfandega (ela não fala portugues nem Espanhol), senão provavelmente também estaria por lá até agora...

Chegamos a Jujuy no final da tarde/início da noite. Como sempre, planejamos saír, achar um bom restaurante na cidade, blábláblá, mas o cansaço venceu e chafurdamos na cerveja e no bife de chorizo no próprio hotel (mais uma vez o excelente Howard Johnson Jujuy, indicação do Luizinho Leão).

Hoje, saímos bem cedo, 6:30 da manhã. Pra não fazer a mesma bobagem da primeira passagem por Jujuy, já abastecemos a moto no dia anterior e sentamos a bota na estrada. O plano era fazer 1.200 km até Posadas, pra dormir perto da fronteira. Este é o mesmo trecho da ida, que permite andar rápido e com segurança. Assim, deveria ser moleza. Pois é, deveria... não fosse a moto de tanque manco do Montanha começar a abrir o bico no primeiro posto que não tinha gasolina (esse negócio aqui na Argentina realmente tá irritante...). Assim, 200 km após a saída de Jujuy tivemos que baixar a velocidade pra 80 km/h pra economizar a gasolina do Montanha. Aí, a média horária foi pro vinagre. Mas sem problema absolutamente nenhum. Compramos galão, amarramos na moto do Montanha e fomos parando em tudo quanto é posto e ele conseguiu chegar em Posadas com DOIS litros no tanque. Umas 3 horas além do que deveríamos (ainda estamos pensando na MUUUUUULTA à qual ele fará jus...), mas chegamos. :-D

Nada de especial neste trecho, apenas um calor dos infernos ainda mais infernal do que o da ida (o termômetro bateu em 40 graus). Agora, a última janta do caminho, e amanhã, Curitiba!!!!!!

Na sequencia, baixo as fotos que ainda não foram postadas e faço um post com elas.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Dia 10 - Copacabana - Coroico - CARRETERA DE LA MUERTE

Que noite... Eu e Eduardo passamos mal, mas MUITO mal com o tal do Soroche. Enchemos o pandurão na noite anterior com o tal do Pico Macho e o sangue deve ter ido todo pro estômago pra processar aquela ignorância. Assim sendo, o ar, quejá não é muito, não deu conta de nos manter respirando adequadamente e ficamos tremendamente "sorochados". Fui dormir as 22h, e à meia-noite acordei rezando pra já ser de manhã. Senta na cama, levanta da cama, deita na cama, e o coração parecendo que ia sair pela boca. Olho pra cama ao lado, Edu dorme fazendo força pra respirar. Foi uma noite do corvo! Mas sobrevivemos...

Acordamos de madrugada (já que tava mesmo difícil de dormir) e decidimos que os passeios pelo lago Titicaca estavam abortados em função da chuvarada que tava caindo em Copacabana. Mas no fundo, o que mais pesou, eu acho, foi a perspectiva de antecipar a chegada a Coroico e poder dormir a 1.800m de altitude!!!!!!

Então, lá fomos nós pra Coroico. Isso incluía uma passagem por La Paz, o que a gente não tava exatamente feliz de fazer por causa do trânsito. Mas isso não era nada perto de problema maior que ainda ia pintar. Quando saímos de Copacabana tentamos abastecer as motos. E descobrimos a melhor: na Bolívia, os postos de gasolina são proibidos de vender gasolina pra turista!!!!!!!!! Não, não estou "sorochado" nem bebi demais na janta (hj nem bebemos...). É isso mesmo!!!!!! Se vc é turista e pretende abastecer seu carro ou motocicleta na Bolívia, prepare-se para looooooongas negociações e para pagar, quando conseguir, pelo menos 3 vezes o preço oficial! Indignação é pouco. A gente ficou puto da vida!!!!!!! Queria era vazar da porcaria da Bolívia o mais rápido possível! Mas não deixamos o emputecimento durar (ainda bem). Aliás, essa foi a mancha na nossa história com a Bolívia, é bom que se diga. O que ouvimos de advertência pra "tomar cuidado na Bolívia", "evitar a Bolívia", etc, etc, etc não está no gibi! De teimosos (e atraídos pela carreteera de la muerte), fomos em frente! E encontramos um país muito mais limpo e organizado do que o Peru (por onde passamos), pessoas amabilíssimas, estradas bastante razoáveis e nada que fosse motivo pra assustar. É a velha história... nego ouve o galo canter e não sabe onde, e sai repetindo o que escuta. Nós viemos e vimos o que rola. E é bacana (rústico, bem entendido...). Com exceção da maldita gasolina, o que joga por terra tooooooooda essa série de comentários elogiosos porque não consigo imaginar absurdo maior do que não vender gasolina pra turista.

Mas fomos em frente! Pegamos uma balsa uns 15 km pra frente de Copacabana e rodamos os 120 km até La Paz. Em La Paz, a mesma epopéia pra abastecer. Passamos num posto, a moça com aquela conversa mole, e aí não dava mais pra ir adiante. Paramos num cruzamento e fomos falar com o guardinha, que tava mais preocupado em ver as motos q qualquer outra coisa. Nisso, já estávamos procurando número do consulado brasileiro quando passa um motociclista numa Harley e pergunta: "tudo bem"? Gritei "não, não querem vender gasolina pra gente". Pensem num cara PUTO! O cara não acreditava. Ficou enlouquecido, começou a ligar pra um monte de gente, nos mandou esperar e em 5 minutos voltou com um policial na garupa. Seguimos o cara até o posto e com o devido sobrepreço e as ordens do policial, abastecemos. Esse é o tip ode coisa que marca a viagem... o cara passou do nada, nem sabemos o nome dele, mas viu tres motociclistas em dificuldade e não pensou duas vezes pra dar um jeito de ajudar. Isso é motociclismo!!!!!

Seguimos em frente ansiosíssimos pra chegar no Caminho dos Yungas. Não vou ficar discorrendo sobre a rota, tem bastante coisa na Internet a respeito, Mas basicamente é uma estrada de 65 km que sai de 4.000 m de altitude e chega em 1.500 num caminho de pedras, escavado na montanha, sempre a beira do precipício, em alguns momentos com não mais do que 4 m de largura... Hoje está desativado e só é utilizado por turistas, mas quando era a rota de ligação de La Paz com Coroico, morria gente adoidado, razão pela qual recebeu esse empolgante apelido.

Na saída de La Paz sobe-se um bocado, por bom asfalto, e começa a descida, ainda em asfalto. Pegamos chuva forte, com muita neblina. Alguns quilômetros à frente, a hora da verdade: ou seguíamos pela rota asfaltada (que sem graça...), ou  metíamos as motos pelas pedras molhadas à beira do precipício. Não preciso dizer o que decidimos. Daí pra frente, bobagem ficar falando. As fotos falarão por si. Posso afirmar apenas que foi a mais espetacular experiência em duas rodas que já vivenciei até hoje. De longe!!!!!!

Travessia da "balsa" na saída de Copacabana























Vista do hotel em Coroico

Dia 09 - Cusco - Copacabana - 550 km

Vamos ao post atrasado. Após nos esbaldarmos em Macchu Picchu, saímos cedo do hotel em Cusco pra procurar onde consertar o freio traseiro da minha moto, além de pequenos reparos nas outras motos, como troca de lâmpada. Fomos à uma rua de Cusco conhecida por ter lojas de motos e o freio da GS foi consertado na concessionária Honda de lá. Trabalho pra lá de profissional. Deu um trabalho desgraçado pra conseguir resolver o problema. Basicamente, o parafuso que havia quebrado estava impedindoo de retirar o conjunto do freio porque ele quebrou "dentro do buraco" por onde ele passava, assim, precisamos tirar a roda, tirar as pastilhas de freio e tirar o disco de freio (uma operação bem chata de fazer). Mas o menino da oficina conseguiu fazer tudo e a moto ficou um espetáculo. Surpresa foi a hora de pagar: 23 soles peruanos, inclusa mão de obra e o parafuso novo (uns 16 reais! por esse valor não iam me deixar nem estacionar a moto na star news em Curitiba....).

Resolvidas as motos, fomos pra estrada rumo à Bolívia, onde chegamos no final da tarde, passando antes por Puno, já às margens do Titicaca. O lago é de uma beleza impressionante, se estende até onde a vista alcança. Na fronteira com a Bolívia, a surpresa foi a eficiência dos oficiais, provavelmente a fronteira onde menos perdemos tempo. Chegamos em Copacabana já de noite e nos hospedamos no Hotel Gloria, que a exemplo do homônimo do Rio de Janeiro, ostenta uma antiga (beeeeeem antiga) classe. Copacabana é uma cidade bastante pitoresca, cheia de gente alternativa atraída até ali pelos passeios pelo lago Titicaca.

Ainda, no caminho para Copacabana, passamos novamente por Juliaca (por onde já tínhamos passado na ida). Isso referendou a minha impressão anterior Juliaca é a pior cidade que já vi na vida!!!!!!!! Peloamordedeus, que lugar horroroso! Barro, muito barro. Ruas inteiras alagadas de barro até a altura do motor das motos. Carro, muito carro. O pior trânsito que se possa imaginar. É tao ruim, sujo e feio que fica até caricato. Não gosto de criticar cidades por onde passo, penso que cada lugar sempre tem seu charme e sua razão de ser. Mas a tal da Juliaca, tá difícil de achar uma razão pra elogiar.

Na janta, afundamos num tal de Pico Macho, prato típico bolíviano a base de carne de porco, frango e gado, batata frita, tomate e cebola. Bom, mas ia cobrar seu preço ao longo da noite... mas isso fica pro próximo post!

Vista do Titicaca da janela do hotel em Copacabana